Direitos no Divórcio em Caso de Traição: O Que a Lei Diz?

A traição, embora moralmente reprovável e causadora de grande sofrimento, possui implicações legais específicas no contexto de um divórcio. Por isso, saber quais são os direitos no divórcio em caso de traição representa uma pergunta recorrente.  

A dissolução do matrimônio, por si só, segue trâmites legais definidos, mas a alegação de infidelidade como causa para o término levanta diversas questões sobre os direitos e deveres de cada cônjuge. 

Neste artigo, vamos esclarecer como a traição pode impactar a partilha de bens, o direito à pensão alimentícia, a guarda dos filhos e a possibilidade de indenização por danos morais, tudo à luz da legislação brasileira.

 

Traição dá direito à indenização? 

Uma das perguntas mais frequentes em casos de divórcio por traição é se o cônjuge traído tem direito a uma indenização por danos morais. 

A legislação brasileira, em geral, não prevê a traição como um ilícito civil automático que gera o dever de indenizar. 

A infidelidade, embora possa ser considerada uma falta grave aos deveres do casamento, previstos no artigo 1566 do Código Civil, por si só, não configura dano moral indenizável.

No entanto, em situações excepcionais, quando a traição é acompanhada de atos humilhantes, vexatórios ou de exposição pública, que causem um sofrimento que ultrapasse o mero dissabor do fim do relacionamento, pode ser considerada.

A jurisprudência brasileira tem admitido a possibilidade de indenização por danos morais. 

Para isso, é crucial que o cônjuge traído apresente provas robustas do dano sofrido, demonstrando que a conduta do outro causou um abalo psicológico significativo, prejuízo à sua imagem ou outra forma de dano moral comprovável.

 

A Infidelidade afeta a divisão de bens? 

A traição, em regra, não interfere diretamente na partilha de bens em um regime de comunhão parcial ou universal. 

A divisão do patrimônio adquirido onerosamente durante o casamento (na comunhão parcial) ou de todos os bens presentes e futuros (na comunhão universal) segue as regras específicas, independentemente da conduta de um dos cônjuges.

O Código Civil estabelece os critérios para a partilha, focando na titularidade dos bens e no período de sua aquisição. 

A conduta moral dos cônjuges durante o casamento, incluindo a traição, geralmente não é levada em consideração no momento da divisão patrimonial

O foco da lei é a questão econômica e a contribuição de cada um para a formação do patrimônio comum.

Entretanto, é importante ressaltar que, em regimes de bens como a comunhão parcial, bens particulares (adquiridos antes do casamento ou recebidos por herança ou doação) não entram na partilha, salvo algumas exceções. 

A traição, por si só, não altera essa regra.

 

Quem trai perde o direito à pensão? 

A questão da pensão alimentícia em casos de divórcio envolvendo traição é mais complexa. 

A obrigação de prestar alimentos entre ex-cônjuges é estabelecida com base na necessidade de quem os pleiteia e na capacidade financeira de quem deve pagar, conforme o artigo 1694 do Código Civil.

A traição, por si só, não implica a perda automática do direito à pensão alimentícia

No entanto, a conduta do cônjuge que solicita a pensão pode ser levada em consideração pelo juiz, especialmente se a traição foi a causa determinante da necessidade de alimentos. 

Por exemplo, se o cônjuge traidor abandonou o lar e deixou o outro em dificuldades financeiras, essa conduta pode influenciar a decisão sobre a obrigação alimentar.

Da mesma forma, se o cônjuge que traiu era o principal provedor e o cônjuge traído não tem condições de se manter, a traição não o desqualifica automaticamente de receber pensão, desde que comprovada a sua necessidade e a capacidade do outro. 

A análise é feita caso a caso, levando em conta as circunstâncias específicas e a proporcionalidade entre as necessidades e as possibilidades.

 

Guarda dos filhos e traição

A decisão sobre a guarda dos filhos em um divórcio tem como princípio fundamental o melhor interesse da criança ou do adolescente. 

A conduta moral dos pais, incluindo a traição, pode ser levada em consideração pelo juiz, mas apenas se essa conduta impactar diretamente o bem-estar dos filhos.

A traição, por si só, geralmente não é um fator determinante para a definição da guarda

O foco principal é qual dos genitores oferece as melhores condições de cuidado, educação, saúde e desenvolvimento para os filhos. 

No entanto, se a traição estiver associada a comportamentos negligentes, abusivos ou que prejudiquem o ambiente familiar e a relação dos filhos com o outro genitor, isso pode influenciar a decisão judicial.

O juiz analisará as condições de cada genitor, seu histórico, sua capacidade de oferecer um ambiente saudável e estável, e a relação de afeto com os filhos. 

A alegação de traição, sem outras evidências de conduta prejudicial aos filhos, tende a ter um peso menor na decisão sobre a guarda.

 

Como provar a traição no processo?

Embora a traição nem sempre tenha um impacto direto nas questões patrimoniais e de alimentos, prová-la pode ser relevante em casos de pedido de indenização por danos morais ou para influenciar a decisão judicial em outros aspectos.

A prova da traição pode ser feita por diversos meios admitidos em direito, como:

  • Documentos: Trocas de mensagens (e-mails, SMS, WhatsApp), cartas, fotografias, vídeos.
  • Testemunhas: Depoimentos de pessoas que presenciaram a traição ou têm conhecimento dos fatos.
  • Boletim de Ocorrência: Em casos de abandono do lar ou outras situações relacionadas à traição que configurem um ilícito.
  • Investigação Particular: Contratação de detetives particulares para coletar provas, desde que obtidas de forma lícita.

É importante ressaltar que a prova deve ser obtida de maneira ética e legal, sem violar direitos fundamentais como a privacidade e a intimidade.

 

O papel da Justiça no divórcio por traição

O Poder Judiciário, ao lidar com direitos no divórcio em caso de traição, busca aplicar a lei de forma equilibrada, considerando as particularidades de cada situação. 

Embora a legislação não penalize diretamente a traição com a perda de direitos patrimoniais ou alimentícios, a conduta do cônjuge infiel pode ser levada em conta em casos específicos, especialmente quando associada a outras condutas prejudiciais.

O juiz analisará as provas apresentadas pelas partes, ouvirá os depoimentos e buscará uma solução que seja justa e que atenda aos princípios do direito de família, como a proteção da dignidade da pessoa humana e o melhor interesse dos filhos.

 

Lembre-se:

Direitos no divórcio em caso de traição, em regra, não afetam diretamente a partilha de bens.

Embora a traição seja uma causa comum de divórcio, suas implicações legais nos direitos dos cônjuges são mais sutis do que se imagina. 

A pensão alimentícia e a guarda dos filhos são decididas com base em outros critérios, embora a conduta do cônjuge possa ser levada em consideração em certas situações. 

A indenização por danos morais é possível apenas em casos excepcionais, quando a traição é acompanhada de atos que causem um sofrimento significativo e comprovado. 

É fundamental buscar orientação jurídica especializada para entender seus direitos e as melhores estratégias em um processo de divórcio por traição.

Compartilhe:

Compartilhe:

Autor:

Dr. Antonio Carlos Ramos Pinto

Responsável técnico pelo Ramos Pinto
Advocacia e editor do portal Direito da Família. É
advogado e docente de ensino superior com
mais de 30 anos de experiência, exercendo suas
atividades profissionais em direito de família e
sucessões, direito constitucional e gestão
educacional.

Ramos Pinto Advocacia

Sua atuação jurídica é baseada no exercício de um Direito ético, humano, compreensível
e empático, sempre atento às necessidades específicas dos clientes e suas famílias.

Artigos Relacionados