Herança

Briga por Herança: Como Resolver Disputas entre Herdeiros

A morte de um ente querido é um momento delicado e de luto para qualquer família. 

Infelizmente, em muitos casos, esse período de tristeza pode ser agravado por desentendimentos e conflitos relacionados à divisão dos bens deixados, a conhecida briga por herança

Essa situação, bastante comum no Direito de Família, pode gerar um grande desgaste emocional e financeiro entre os herdeiros, especialmente entre irmãos. 

Compreender os motivos que levam a essas disputas, os direitos de cada parte e os caminhos legais para solucionar o impasse é fundamental para evitar prejuízos e preservar as relações familiares.

Por que acontecem brigas por herança?

As razões que desencadeiam uma briga por herança são diversas e complexas, envolvendo muitas vezes questões emocionais, financeiras e até mesmo históricas dentro da família. Entre os motivos mais frequentes, podemos destacar:

  • Falta de Testamento: A ausência de testamento pode ser um dos catalisadores de conflitos. Sem um documento que expresse a vontade do falecido sobre a destinação de seus bens, a partilha segue as regras estabelecidas pela lei, o que nem sempre corresponde aos desejos ou expectativas dos herdeiros. Essa falta de direcionamento pode gerar interpretações divergentes e a sensação de injustiça entre os envolvidos.
  • Desconfiança entre os Herdeiros: Históricos de desentendimentos familiares, mágoas antigas ou a percepção de que um herdeiro está agindo de má-fé podem acirrar os ânimos e dificultar qualquer tentativa de acordo amigável. A desconfiança pode levar à contestação de valores de bens, à alegação de doações ocultas ou ao questionamento da administração dos bens durante o processo de inventário.
  • Partilha Desigual: A percepção de que a divisão dos bens não está sendo justa é um motivo comum de conflitos de herança entre irmãos. Isso pode ocorrer quando um herdeiro se sente prejudicado em relação aos demais, seja pela natureza dos bens recebidos, pela avaliação dos imóveis ou pela forma como a partilha está sendo conduzida.
  • Dificuldade na Avaliação dos Bens: Determinar o valor justo de cada bem, especialmente imóveis, empresas ou bens de natureza sentimental, pode ser um ponto de discórdia. Avaliações diferentes podem levar a discussões acaloradas sobre a equivalência dos quinhões hereditários.
  • Questões de Ordem Moral e Afetiva: Em alguns casos, a briga por herança transcende a questão financeira e envolve sentimentos de exclusão, falta de reconhecimento ou ressentimento em relação ao falecido ou a outros herdeiros. Essas questões emocionais podem tornar a resolução do conflito ainda mais complexa.
  • Interesses Individuais: Cada herdeiro possui suas próprias necessidades e expectativas em relação à herança. Enquanto um pode desejar vender um imóvel para obter recursos financeiros imediatos, outro pode ter o interesse em mantê-lo como patrimônio familiar. Essa divergência de interesses pode gerar impasses na hora da partilha.
  • Influência de Terceiros: Em algumas situações, cônjuges, companheiros ou outros familiares podem influenciar a postura de um herdeiro, intensificando o conflito e dificultando a busca por um consenso.

Disputa de Herança entre Irmãos: O Que Saber

Quando a briga entre irmãos por herança se instala, é crucial entender como a lei brasileira trata essa situação. 

Em geral, os irmãos são herdeiros necessários, ou seja, possuem direito à parte legítima da herança, que corresponde a 50% dos bens deixados pelo falecido. 

Os outros 50% podem ser dispostos livremente em testamento, respeitando-se a parte legítima dos demais herdeiros necessários (cônjuge/companheiro, ascendentes e descendentes).

Na ausência de testamento, a lei estabelece a ordem de vocação hereditária, sendo os descendentes (filhos, netos) os primeiros na linha de sucessão, seguidos pelos ascendentes (pais, avós) e o cônjuge/companheiro sobrevivente. 

É importante ressaltar que a lei prevê algumas exceções e particularidades. Por exemplo, filhos havidos fora do casamento possuem os mesmos direitos hereditários que os demais. 

Da mesma forma, a figura do cônjuge ou companheiro sobrevivente pode influenciar a partilha, dependendo do regime de bens do casamento ou da união estável.

Em casos de conflitos de herança entre irmãos, é fundamental que cada um compreenda seus direitos e deveres, buscando informações precisas sobre a legislação aplicável e a situação patrimonial do falecido.

O Que Fazer em Caso de Briga por Herança?

Diante de uma briga por herança, a primeira atitude recomendada é buscar o diálogo entre os herdeiros. 

Tentar uma conversa franca e aberta, expondo os pontos de vista e buscando um entendimento mútuo, pode ser o caminho mais rápido e menos desgastante para a resolução do conflito.

A mediação é outra ferramenta valiosa nesses casos, podendo ser realizada de forma extrajudicial ou judicial.

Um advogado especialista ou um mediador, profissional neutro e imparcial, podem auxiliar na comunicação entre os herdeiros, facilitando a identificação de interesses em comum e a construção de um acordo que satisfaça a todos. 

No entanto, quando o diálogo se mostra infrutífero e a mediação não surte o efeito desejado, é imprescindível buscar o apoio de um advogado especialista em herança

O advogado especialista em direito de família poderá auxiliar na negociação com os demais herdeiros, na elaboração de propostas de acordo e, se necessário, na representação judicial dos interesses de seu cliente.

Quando a Disputa Vira um Processo Judicial?

Quando as tentativas de resolução amigável falham, a briga por herança pode se transformar em um processo judicial. 

O principal instrumento legal para formalizar a partilha dos bens é o inventário. O inventário pode ser realizado de forma extrajudicial (em cartório), desde que todos os herdeiros estejam de acordo.

No entanto, em casos de briga por herança, o inventário necessariamente segue a via judicial. 

O juiz nomeia um inventariante, são avaliados os bens, são pagas as dívidas do falecido e os impostos devidos, e, finalmente, é realizada a partilha entre os herdeiros, de acordo com a lei ou o testamento.

Se um dos herdeiros não concordar com a partilha proposta, pode apresentar suas objeções ao juiz, dando início a uma fase de litígio dentro do processo de inventário

Essa fase pode envolver a produção de provas, a realização de perícias e a decisão judicial sobre os pontos controvertidos.

Em situações extremas, quando há dúvidas sobre a validade do testamento, alegações de sonegação de bens ou outras irregularidades graves, pode ser necessário ingressar com ações judiciais específicas, ou seja, fora do inventário.

É importante estar ciente de que o processo judicial pode ser longo, custoso e desgastante emocionalmente. Por isso, a busca por uma solução amigável, com o auxílio de um advogado, é sempre a opção mais recomendada.

Como Evitar Brigas por Herança?

A melhor forma de evitar a briga por herança é o planejamento sucessório

Essa ferramenta permite que a pessoa organize a transmissão de seu patrimônio ainda em vida, evitando futuros conflitos entre os herdeiros e garantindo que seus desejos sejam respeitados.

O principal instrumento do planejamento sucessório é o testamento. Por meio dele, a pessoa pode dispor de até 50% de seus bens da forma que desejar, além de poder nomear um testamenteiro para garantir o cumprimento de suas últimas vontades.

Além disso, a comunicação transparente entre os membros da família sobre as questões patrimoniais e os desejos em relação à herança pode contribuir significativamente para evitar futuros desentendimentos. 

Conversar abertamente sobre o assunto, buscar o aconselhamento de um advogado e formalizar as decisões por meio de documentos legais são medidas preventivas importantes para garantir a paz familiar e a correta destinação do patrimônio.

Lembre-se:

A briga por herança é uma realidade complexa que pode trazer grande sofrimento às famílias. 

Compreender os motivos que levam aos conflitos, conhecer os direitos dos herdeiros e buscar as vias adequadas para a resolução do impasse são passos essenciais para evitar prejuízos e preservar os laços familiares. 

O planejamento sucessório surge como a principal ferramenta para prevenir essas disputas, garantindo uma transição patrimonial mais tranquila e respeitosa com a vontade do falecido.

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Autor:

Dr. Antonio Carlos Ramos Pinto

Responsável técnico pelo Ramos Pinto
Advocacia e editor do portal Direito da Família. É
advogado e docente de ensino superior com
mais de 30 anos de experiência, exercendo suas
atividades profissionais em direito de família e
sucessões, direito constitucional e gestão
educacional.

Ramos Pinto Advocacia

Sua atuação jurídica é baseada no exercício de um Direito ético, humano, compreensível
e empático, sempre atento às necessidades específicas dos clientes e suas famílias.

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